O encontro

Já era tarde da noite.
O pacto já tinha sido feito.
Os seus passos estavam rápidos como seus pensamentos, suas idéias corriam a léguas daquilo que estava sendo a realidade. Sua mente viajava do futuro ao passado, passando pelo presente, pois o suor e a aflição o lembrava daquilo que estava prestes a fazer.
Mas sua mente voltava a viajar. Ia ao passado, relembrando o encontro com ele, não sabia que suas palavras iam causar tanto furor, que suas palavras iam atormentar a sua mente tão ocupada pelo momento que estava
prestes a ocorrer. Seus olhos procuravam algum lugar conhecido, procuravam alguém que pudesse trazer uma palavra de coragem, mas parecia que todos já sabiam de sua intenção. Os olhares dos outros eram de desconfiança, sabiam o que procurava.
Mas a caminhada parecia não ter fim. Enquanto isso as cenas dos encontros com ele iam se tornando cada vez mais rápidas e intensas. Suas palavras ecoavam junto ao emaranhado de imagens que se formavam em sua cabeça. Os almoços nas casas dos outros, os jantares a luz do fogo, os trabalhos, os amigos, as pessoas que o procuravam necessitando de algo, e seu sorriso para elas. Seu sorriso, isto era a marca que todos amavam naquele ser.
Seu sorriso sincero, puro, ingênuo, verdadeiro, trazia uma paz aos corações aflitos. Seus olhos sempre tão atento a necessidade do próximo, sua mão sempre tão perto para dar uma afago e sua atenção nunca desperdiçada com quem achava que nunca seria ouvido.
Mas ele caminhava, sabia que tinha que fazer aquilo que já tinha sido acordado. Sabia que iam se lembrar daquela noite. Noite fria, escura, silenciosa. Os passos eram a melodia daquela noite.
Finalmente sua visão atenta ao lugar marcado. Seus olhos se deparam com a figura dele. Os olhos dele estavam ansiosos, esperando qualquer reação daquele que estava a sua frente. Suas mãos suavam, suas pernas tremiam, não sabia o que fazer, não sabia o que dizer, mas sabia que algo tinha que ser feito. Sabia que aquela noite sereia inesquecível para todos.
De repente chegou mais perto, no seu peito batia forte o coração, na sua mente as cenas não paravam de passar em suas mentes. Foi chegando mais perto, já podia sentir o seu cheiro. Seus olhos seguia cada passo seu, analisando cada movimento, de repente para um frente ao outro, de repente quando ao menos se espera, ele reage de uma forma que iria espantar a todos. Mas seria sua ultima forma de dizer: "eu te amo, mas antes você do que eu!"
De repente o silencio é quebrado por outra coisa que não seja passos. Uma voz... A voz que ele tanto escutara, no seus mais diversos tons. Desta vez, sua voz estava embargada, não esperava por aquilo. Não sabia que ia ser daquela forma. Mas ele fala: "É com um beijo que trai o filho do Homem?".
Esta frase foi jogada aos seus ouvidos como o peso de uma bigorna caindo de um prédio bem alto. O som daquelas palavras foram tomando cada pedaço do seu ser. De repente ele percebe que o que tinha feito seria nada mais nada menos do que a traição que iria marcar a historia de toda a humanidade. E ele era o traidor.
Não adiantava pedir desculpas, não adiantava pedir perdão. O que era pra ser feito, foi feito. O acordo foi cumprido.
Ele, agora chora amargamente pelo seu ato tão mesquinho e pequeno, comparado a tão nobre causa da sua vítima.
Assim não agüentando de dor, quis devolver o preço do acordo, mas não quiseram receber. Então sua saída foi dar fim na sua própria vida. E assim fez. Fez o acordo maior que qualquer ser humano fez. Traiu o filho do Homem e assim fez com que o pacto fosse cumprido:
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu seu Filho unigênito, para que todos aqueles que nEle creia não pereça
mas tenha a vida eterna." Jo 3:16


Ítalo Colares
Soli Deo Gloriae!