Olá.
Após assistir um vídeo compartilhado por um amigo-aluno, veio essa reflexão-desabafo.
Quem olha para esse meu jeito como alguns enxergam: cheio de si, com ideias formadas, carismático, popular, que fala em público. Não sabe o quanto tive que reformar e formar o ser que há em mim diante do bullying que sofri na minha infância e adolescência.
Filho mais novo de dois irmãos mais velhos, era impossível não ser alvo de brincadeiras e pegadinhas. Não os condeno, só replicavam aquilo que viam na sociedade. Os mais velhos podem bater, mentir, implicar com os mais novos, é visto como "direito" deles... Lamentável.
Lembro-me de uma certa vez, em um dos vários clubinhos que eram construídos pelos meus irmãos no quintal lá de casa, e que nunca eu participei, justamente por ser o mais novo. Eu bati na portinha, perguntei se podia entrar, eles disseram que iriam se reunir pra decidir, isso sendo falado com um tom de voz amigável, dando a esperança que pela primeira vez eu poderia entrar. Após alguns minutos, eles me chamaram e todos de uma só vez gritaram: NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOO... Aquilo me deu uma raiva, uma frustração de não aceitação, que até hoje, quando chego em algum lugar que terei que conviver com algum grupo, a minha primeira reação é ficar calado, com receio de ouvir um categórico não... Ah! Mas aquele clubinho não sobreviveu ao meu ataque de fúria e o coloquei abaixo.
Ainda na minha casa, por minha incompatibilidade (ou seria, incapacidade dos meus professores de matemática, que não souberam ensinar alguém voltado para a área das humanas a entender a referida matéria) com as ciências exatas, era chamado constantemente de "Capitão 2,0", por só tirar essa nota nas disciplinas de Cálculo, Problemas, Geometria...
Esse apelido ainda ecoa na minha cabeça, cada vez que recebo uma nota baixa na faculdade, ou que uma entrevista de emprego não sai como eu esperava...
Ao crescer, quis ser o manda chuva da rua e dos meus amigos mais novos, e fiz isso com maestria perversa. Quando me lembro do que fiz, me envergonho. Hoje sei, que foi fruto de uma sociedade ridícula que cria nas crianças a réplica do poder e da autoridade destrutiva. Que pena. Peço perdão aos meus amiguinhos do bairro.
Quando cheguei na minha adolescência, fui tachado de várias coisas, era magro demais, baixinho, e sendo considerado até afeminado pelos "homens" das salas de aula. Então tinha uma enxurrada de apelidos diários, o que me tornou alguém agressivo, sempre na defensiva-ataque. E assim, fui vivendo o inferno do Ensino Médio. Perseguido por colegas de sala, até que tive que tomar uma postura de louco, se armar com um estilete para fazer algo contra um dos colegas de sala... Isso e fora outras coisas. Poderia resolver de uma outra forma, mas, era a linguagem que vivenciávamos dentro de nossas casas.
Entrei em uma comunidade religiosa protestante, mais conhecida como evangélica. E ali não foi diferente. Contudo, aprendi a usar meu bom humor pra quebrar esses espaços. Comunidade de periferia, pequena, preconceitos a mil. Consegui ter notoriedade e as piadas cessaram, já que na grande maioria das vezes a liderança eclesiástica possui um certo respeito. Doce ilusão, as pessoas ainda continuavam com suas piadinhas, só que dessa vez, sem que eu soubesse ou fingir que não sabia...
Cresci, e assim, a cada dia que se passa eu tento desconstruir o "eu" que as pessoas o fizeram. Covarde, receoso, medroso, sempre na defensiva, malicioso, destrutivo, vingativo, frio, rancoroso... Pode ser, que alguém ao ler pense que eu esteja responsabilizando os outros pelo ser que sou. Mas não é essa a intenção.
Eu deixei ser aquilo que os outros me transformaram. Eu permiti que pessoas me rotulassem e ainda permito. Sofro com isso. Quem sabe é o medo de rejeição da infância.... Não quero ficar brincando só na área da minha casa, com meus brinquedos improvisados.
Hoje assumo o ser que sou. Hoje apesar dos traumas e neuras, eu estou tentando vivenciar o melhor que há em mim. Tento esquecer os apelidos, os gritos, castigos, e me tornar um Ítalo Colares melhor, não pra ninguém, mas para mim mesmo.
Peço perdão, se nessa caminhada ofendi, agredi, machuquei alguém... Não era a intenção e mesmo que fosse, peço perdão assim mesmo.
Possa ser que eu ainda respingue nos outros minhas dores, mas sigo pedindo perdão e ajuda para se tornar um humano melhor.
Naquele que entende e aceita como nós somo,
Ítalo Colares.
Soli Deo Gloriae.


Um comentário:
Isso daria um EXCELENTE FILME no sério kk você é 10 Italo
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