Prof. Ítalo Colares

“Este menino será um ladrão!” Esta foi a sentença que uma tia determinou para a minha vida, quando por um impulso infantil peguei algo da sua casa. O tempo passou, por um acaso, o meu pai veio a falecer, acarretando uma série de julgamentos sobre mim e sobre meus irmãos. “Este será um maconheiro!”, “Esta será uma prostituta!” e o ultimo dado a mim foi: “Este será um marginal!” Frases como estas foram ditas por vizinhos, familiares e parentes. Afinal a minha mãe nunca teve pulso para nos controlar, ao contrário do nosso pai que se fosse possível, dizia até a hora que poderíamos respirar.


Mas por um acaso, o tempo foi passando, aquele a quem todos determinavam que iria ser maconheiro, virou militar, e seus amigos, os filhos das tias e dos vizinhos que diziam que ele iria ser maconheiro, é que foram durante anos (alguns ainda são!) usuários de drogas.

Por um acaso, aquela que todos diziam que ia ser prostituta, aceitou o desafio de ser cristã e há onze anos é casada com o mesmo marido, onde teve sua primeira filha no quinto ano do casamento. Já as filhas de suas tias e vizinhas, tiveram os filhos com pais que não conhecem mais, ou até mesmo nem sabem quem é o pai. E por um acaso, atualmente minha irmã cursa a faculdade de direito, financiada pelo PROUNI, tendo cem por cento de aproveitamento, após oito anos não estando estudando regularmente para um vestibular.

Já eu, bem eu, o eterno capitão dois, aquele que todos diziam que iria ser marginal, que uma tia determinou que fosse ser ladrão, eu mesmo, que iria ser bandido procurado pela polícia, bem, eu, por um acaso, nunca usei drogas ilícitas (e não foi pela falta de oportunidade), por um acaso nunca me envolvi com gangues e nem com pichações (não por falta de convite), por um acaso eu nunca tive relações sexuais que acarretaram em uma gravidez (não posso falar o mesmo dos meus primos e vizinhos), por um acaso, eu nunca me envolvi em problemas com a polícia. Por um acaso, sou o único da família (dentre primos e primas) que cursa um a faculdade pública sem ter que ser sustentado por pai e nem mãe. Falando em sustento, quem arranjou o meu primeiro emprego foi o meu cunhado, e na minha vida profissional não tenho nada que possa manchar o meu currículo. Já fui assediado, já tentaram me subornar, já quiseram que eu me envolvesse com caixa dois e por um acaso eu não cometi nenhum destes atos. Por um acaso, casei com uma mulher de boa índole, que também estuda em uma faculdade pública, e que não há nada que possa acinzentar sua reputação. Por um acaso, estou casado há um ano, sem receber ajuda de ninguém, por um acaso, a profissão que escolhi (educador) sou respeitado pelos meus colegas de trabalho, admirado pelos meus alunos e por um acaso, faço por que gosto e não porque ganho bem, pois se dar bem na vida for só ganhar dinheiro, as meninas da Beira-Mar, os traficantes, e os petistas estão se dando bem na vida não é mesmo?

Por um acaso, posso não ter pai, posso morar de aluguel, posso não ter bens, mais de uma coisa que NINGUEM poderá me acusar é que eu não sou feliz. Por Acaso (a quem na minha heresia eu chamo de Deus) é que me protegeu durante todos estes momentos e tem sustentado minha esposa e eu.

“O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído” (Epitáfio, Titãs)