Em uma recente conversa com um amigo ele me contou do forte desejo que os jovens de sua igreja estão tendo por oração. Ele disse que lá na sua igreja as pessoas não estão mais orando como antes – “Afinal não se deve mais orar por aquilo, nem por isso”... E depois a conversa começou a ficar entediante para mim, pois já não aguento mais este papo institucional de igreja.
Quando cheguei à nossa casa fui conversar com minha esposa sobre a oração, e questionamos algumas frases ditas por alguns pastores conhecidos, e também de algumas práticas cristãs que estão desaparecendo com o secularismo religioso. Então ela me falou algo que não tinha pensando: “Amor, os pastores estão falando sobre o que não se deve dizer em uma oração, e estão esquecendo de dizer o que é oração, pra que serve, etc.” E isto me inculcou para escrever sobre este tema tão mal debatido em nossas igrejas e/ou círculos religiosos. E fui ver em minha biblioteca mental e material o que tinha sobre oração.
O ponto inicial que coloco é que o cristianismo se desviou e virou uma grande religião, cheia de dogmas, preceitos, doutrinas, lados opostos, etc. O cristianismo surgiu como uma seita judaica que seguia os ensinamentos de Jesus, o maior quebrador de protocolos da religião judaica. Jesus agia ao sábados, conversava com mulheres a sós, tocava em leprosos, andava com coletores de impostos e republicanos, pecadores de um modo em geral. Ou seja, Jesus fazia tudo que a religião judaica era contrária. Então percebo que o Cristianismo não surgiu como intenção de substituir o judaísmo, mas como uma prática de espiritualidade diferenciada do judaísmo. E aí surge um termo interessante. Espiritualidade. Como diz Leonardo Boff: “Ela se deriva de espírito. Espírito não é uma parte do ser humano. É aquele momento de nossa consciência pessoal que nos permite sentirmo-nos parte e parcela de um Todo que nos ultrapassa por todos os lados...” (BOFF, Leonardo. A força da ternura. Rio de Janeiro: SEXTANTE, 2006 p.23). É nessa espiritualidade que deve girar o nosso cristianismo, entender que vivemos imersos no Reino de Deus que não é comida nem bebida, mas é verdade e espírito. E para entendermos isso, Boff nós dá uma orientação: “A espiritualidade acontece em nossa vida quando passamos da doutrina para a experiência, da palavra para o sentimento e da cabeça para o coração.” (BOFF, Leonardo. 2006 p.31. Op cit.). E onde entra a oração nisso? Bem, a prática da oração nos servirá unicamente para uma coisa: nos tornar íntimo de Deus. Como diz a música do Pr. Alisson: “Se eu oro bem, ou sei pregar, sugere a quem me escutar, a ideia de que sou um bom cristão. O modo que eu sei fazer, construo frases pra dizer, o quanto já me sinto bem perto do céu. Mas percebi como é banal, esse sentir-me especial meu desafio é ser íntimo de Deus.”
É neste ponto que devemos perceber o valor da oração. Ter intimidade com Deus. A oração não nos servirá para tirar algo de Deus, para fazer com Deus mova seu braço ao nosso favor, para que Deus faça isso ou aquilo. A oração primeiramente deve ser um sinal, e motivada pela intimidade que ela causa com o nosso Deus Pai e Criador de todas as coisas. “A oração é fruto espontâneo da consciência de um relacionamento pessoal com o Todo-poderoso, onde não há espaço para o monólogo, pois quem ora não apenas fala, mas também precisa estar disposto a ouvir. É um dialogo que o crente aprofunda sua comunhão com Deus...” (Revista Lições Bíblicas do 1º Trimestre de 1996, Lição 08. CPAD, 1996). E nessa intimidade ocasionada pela oração, nós não nos tornamos vencedores, gigantes, grandes, muito menos poderosos, pelo contrário, ao termos mais intimidade com o Criador é que entendemos o quanto somos pequenos, fracos, e pecadores. Já dizia Jonatham Edwards: “Um cristão verdadeiro é dez vezes mais convicto das maldades de seu coração e de sua corrupção do que o cristão hipócrita.” (Revista Ultimato. Março/Abril de 2009. p. 26).
Diante disso espero que possamos entender que a oração é para ser íntimo de Deus, se seremos beneficiados por esse relacionamento, isso pouco deve nos importar, o que adianta ganharmos o mundo inteiro e perdermos a nossa alma? O que Deus nos dá não deve ser maior que Ele próprio em nossas vidas. As bênçãos de Deus deve ser apenas detalhes pequenos deste relacionamento tão especial.
E sobre oração eu tenho muito mais a trilhar do que falar e aqui faço como os discípulos de Jesus: "Senhor ensina-nos a orar..." (Lc 11:1)
Naquele que ora por nós,
Ítalo Colares
Soli Deo Gloriae.


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