Eu sou uma metamorfose ambulante...

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Fortaleza, Ceará, Brazil
Nordestino que ama a terra onde pisa e a cidade onde nasceu. Eclético por formação e escolhas. Sempre buscando uma ideologia para viver, não para se apegar como verdade absoluta, apenas para viver... Um ser que valoriza a vida humana em sua plenitude.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

E quem é o meu próximo???

               A questão do próximo no cristianismo é vista com equívocos e embaraços. Sempre que ouvia esta mensagem do próximo imaginava que seria alguém passando por necessidades, ou um indivíduo na qual estivesse se desviando dos caminhos do cristianismo, ou até pessoas que não fazem parte do meu gueto religioso, mas que devo por amor ao reino de Deus amá-lo e trazê-lo para o meu círculo religioso.
Acredito que esta percepção do próximo só será compreendida quando resolvermos a problemática do outro.  
 Quem é o outro para mim? O que ele representa? O que posso fazer por ele? Melhor, posso fazer alguma coisa por ele? E qual a influência que ele terá em minha vida? Ou simplesmente, qual o meu interesse pelo outro?
Jean-Paul Sartre diz que “o inferno são os outros(Entre quatro paredes). E analisando o texto bíblico, concordo com Sartre, os religiosos sempre se comportam como se os outros já estivessem no inferno, olham o outro com uma visão de superioridade. Até mesmo os que professam a mesma fé, mas são de denominações diferentes, sempre acham que o outro já está no inferno, pois, ou são liberais demais, ou então são conservadores demais. Na verdade, plagiando Sartre, “o inferno é a igreja” (Para não escandalizar, digo igreja no sentido instituição. E não me refiro à igreja Corpo de Cristo). Pois, não conheço outra instituição que mais condenem os outros simplesmente por ser o outro.  Devemos entender que o outro é nada mais, nada menos do que uma complementação do eu. Conforme Sartre afirma: “Para obter uma verdade qualquer sobre mim, devo passar pelo outro. O outro indispensável à minha existência, tanto quanto à consciência que tenho de mim.
Nessa indispensabilidade do outro, devemos compreender que tanto o outro como o eu são humanos, logo, são criaturas de um mesmo Deus, a ressaltar que Cristo morreu na cruz pelos pecados tanto do eu como do outro. É neste ponto, que o outro se assemelha ao eu, já que ambos, o outro e o eu, necessitam da graça de Deus (Romanos 3:23). Aí o outro é posto no mesmo patamar em que o eu está inserido. Já que na visão do Reino de Deus não há maior e nem menor. Porém, devo ressaltar que o outro não é completamente igual ao eu, no que se diz respeito a ser. Já que eu sou aquilo que fui constituído a ser, e o outro foi constituído a ser também, logo ambos são constituídos de forma diferentes, assim, vivem de forma diferenciada, por que se não fosse assim o outro deixava de ser outro para ser eu. Logo ninguém é igual a ninguém, pois somos seres que estamos em eterna construção e nessa construção há também a presença da desconstrução, pois nem sempre nos tornamos aquilo que queremos ser.
Entender o outro, é simplesmente entender que este não é melhor ou pior do que o eu, é perceber que as diferenças na qual nos separam não pode ser maior do que as semelhanças na qual nos une. Da mesma forma se deve perceber que até o ritmo da desconstrução do outro deve ser respeitada. Pois enquanto eu posso muito bem construir e destruir com presteza, o outro pode muito bem ter dificuldade no seu processo de desconstrução e uma dificuldade maior no processo de re-construção de ser e/ou pensar.
É aí que está o grande mistério no cristianismo. Cristo, em nenhum momento condenou aquele que se achava em construção, ou desconstrução. Na verdade Cristo foi o maior “desconstrutor” que podemos conhecer, e um polêmico destruidor de pre-conceitos (com a mulher samaritana), de barreiras sociais (com os leprosos), de tabus (sobre a questão do sábado), etc. Mas, não podemos dizer em nenhum momento que Cristo desdenhou do outro, no seu processo de elaboração de ser e pensar. Mas, não devemos esquecer o caso dos fariseus, que se achavam perfeitos e sem mácula, estagnando assim o processo de construção que a vida proporciona a cada um de nós.
Bem, espero ter pressupostos para arriscar responder as perguntas que eu mesmo levantei, se estou certo, a resposta é óbvia que não, pois o processo de reflexão não termina por aqui, mas que possa apenas um levantamento das questões e assim construirmos uma fé mais sólida e bem mais humana, parecida com a de Jesus, homem.
Primeiro, o outro para mim deve ser entendido como uma complementação do eu que sou. Lembrando que somos partes de um todo e que este todo se revele no outro assim como se revelará em mim para o outro. Assim respondemos a segunda questão: o outro é um complemento daquilo que estou disposto a ser, sem determinismos e sem predestinações, mas simplesmente por entender que somos seres oriundos de uma mesma essência: Deus.
E respondendo os outros questionamentos, as minhas ações para com o outro, deve se dá no fato de contribuir como processo de complementação de ser do outro e vice-versa. Assim, tanto o eu como o outro, estaremos participando de uma arte muito antiga, o compartilhamento da existência do ser. Aí o outro tem uma enorme influência na minha caminhada rumo ao ser que estou disposto a me tornar ou não. Já que o meu interesse pelo outro é nada mais nada menos do que um interesse pelo que ele representa em meu processo de ser. Ou seja, a minha complementação. Por isso que nos casamos, trabalhamos, estudamos, temos amigos, que fazem parte dessa construção que nos levará ao ápice da nossa elaboração de ser humano.
Então, temos um desafio, aceitar o outro neste processo de ser.


No amor daquEle que É por nós,
Ítalo Colares.
Soli Deo Gloriae.

Um comentário:

Unknown disse...

Ítalo, bom texto cara. Realmente compartilhar a existência do/com outro é bem complicado. Tentei escrever sobre isso tb aqui: http://lucaspqueiroz.blogspot.com/2010/10/compartilhar-o-que-se-vive-e-viver.html

Abração,

PS: Reunião da RedeFALE dia 11/12(sábado) às 15hs na Betesda-JT !

Lucas Queiroz