Sempre gostei de escrever. Mesmo não sendo um bom articulador e nem muito menos um letrado e pior ainda ter domínio na arte da escrita, eu gosto de enveredar pelas palavras. Mas infelizmente não escrevo mais.
Vários fatores me levaram matar esse talento (se é que tive um dia). As mazelas, o corre-corre do cotidiano, as durezas de coração de uma vida de decepções e frustrações. Escrever e não pôr suas impressões e expressões penso que é mesmo que compor uma música e não saber do que se fala. Por isso, sempre me pediram para não escrever aquilo que penso. O que acho engraçado é que a sociedade solicita que as pessoas sejam transparentes, mas se você exercer essa transparência, essa verdade, a mesma sociedade pede que você se cale, afinal desnudar-se e fazer com que os outros se desnudem não é uma tarefa aceita socialmente. Então não escrevo mais.
Familiares e amigos sempre elogiaram minha escrita, ora ácida, pra poética, às vezes cômica, às vezes trágica, mas sempre sincera. Alguns já afirmaram que meus textos, são cópias fiéis daquilo que falo, acontecendo muitas vezes, a sensação de que está ouvindo a minha voz a medida que se ler. Mas, alguns por tanto criticarem, por tanto zombarem, rirem de um talento infantil e ingênuo, por isso, por acharem que escrevo para iludir as pessoas, por isso, eu não escrevo mais.
Minha mente trava. Meus dedos doem ao pensar no que irei digitar. Palavras me faltam, pensamento se dissipam como fumaça. Meu coração arde por escrever mas minha razão diz não. O diálogo entre os dois é algo tão feroz que muitas vezes tenho que ir dormir usando algum medicamento para assim silenciar os dois. E no outro dia, a rotina não permite que eles voltem a dialogar. Por isso, não escrevo mais.
Ah, paixão... Paixão sentimento lindo, que toma conta do ser e que permite que ele acredite com sua alma, que pode fazer feitos incríveis e assim conquistar o outro. Essa paixão por ser lido, por ser devorado por aquele que lê. Paixão que impulsiona o mais fraco coração a bater e assim dar forças para que ele ao dialogar com a razão escreva palavras lindas e pensamentos belíssimos para a pessoa amada. Ah! Essa paixão... Por não ter mais essa paixão, eu não escrevo mais.
Algum tempo atrás eu acreditava que era um enviado por forças divinas para realizar alguma missão especial. Hoje eu percebo que sou mais um no meio da multidão. Líderes religiosos, gostam de trocar ideias, alguns até de ouvirem os meus conselhos, mas nenhum deles querem ter-me por perto, como frequentador de uma de suas assembleias. Há algumas pessoas que gostam até de serem mentoreadas por minha pessoa, mas ao que tudo parece, querem apenas ver o aspecto negativo e/ou positivo de algum problema que estão passando, sendo assim, quando o problema passar já não me procuram. Por isso, não escrevo mais.
E agora? O que fazer? Como lutar contra um desejo que é nato. Não procurei, sempre tive, ao ler as histórias de "Xisto", ao aventurar-me com Cervantes, chorar ao ler a história da menina Pimpa, de Marcos Rey em Sozinha no Mundo. Eu lia essas narrações e pensava: "um dia quero poder criar as minhas aventuras, e emocionar as pessoas com minha escrita." E hoje, ao crescer percebo que as pessoas não leem mais como era antigamente. As histórias estão cada vez mais surreais e assim distante de um mundo onde é possível ler e assim mudar a realidade a partir daquilo que se é lido. Por isso, não escrevo mais.
Quando voltarei a escrever? Não sei... Quem sabe, quando a minha razão estiver fraca em argumentações e assim o meu coração fortalecer suas premissas, meus argumentos e inferências possam assim unir-se as palavras e sair algum texto, com nenhum sentindo para ninguém, apenas para esse coração que não se cala e acha nesse espaço virtual a única maneira de ser escutado.
Naquele que escreve a história conosco,
Soli Deo Gloriae.
Ítalo Colares

2 comentários:
Nossa, estou realmente impressionada, pois me identifiquei muito com esse texto! As suas palavras, Professor Ítalo Colares, descreveram tudo o que eu nem conseguia mais dizer, mas que permanecia na minha cabeça, vinte e quatro horas por dia martelando. Na verdade, foi por isso, por este motivo que eu também não consigo mais escrever. No entanto que eu nunca mais postei aqui no meu blog. Enfim, eu lhe entendo perfeitamente e não queria parar de escrever e muito menos que você, que admiro tanto, abandonasse a escrita por uns tempos. Mas, a sociedade está mesmo uma coisa terrível! E não mesmo, não está a mesma coisa, eu não consigo escrever como antes. Parece que as palavras estão cansadas de mim, e por isso, se ausentam do meu ser.
Nem todos os manuscritos precisam ser publicados...vc mesmo me aconselhou a guardar algumas pérolas, pq revelam nossa alma. Então, escreva, meu amor, com toda intensidade, mas não as entregue aos porcos, pq apenas o prazer pela escrita já nos satisfaz.....
com amor, Karen Grace
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